twitter
    Twitter Thiago Almeida :)

O Rei eu não vi.

Oi, meu nome é João, o nome mais popular nas histórias, talvez porquê “João” não precise de muito esforço para pensar. Pensa em um nome: João. Automático. Talvez minha vida sempre foi assim: Automático. Mas com muito esforço. Esforço de quê? Pra quê? Bom, vou contar uma história pra você que ler esse blog:
Tenho uma Mãe e um Pai, se é que posso chamá-los assim. Sempre brigaram e nunca foram de fato uma família. Meu pai era um viciado em drogas e bebidas, e minha mãe, uma crente, que, nas horas difíceis da vida, vendia seu corpo para ganhar dinheiro! Quando minha mãe ficou grávida, meu pai a espancou, chutou a barriga dela, e disse que ela “não tomava as providências devidamente corretas”. Tudo que ele queria era me matar. Talvez seria o melhor e menos doloroso. Sobrevivi. Nasci! A primeira pele quente que senti, foi a do médico, depois, da enfermeira, que cuidou de mim por 4 maravilhosos dias. Não, não havia dado complicações na minha mãe, ela apenas tinha se recusado a cuidar de mim, não com essas palavras.
Meu pai não fez o minimo de esforço para ir me visitar no hospital, nem parar ver se eu tinha morrido. Cheguei em casa, limpo e cheiroso, e, confesso que um pouco de medo. A casa era velha, tinha uma energia muito negativa, um cheiro estranho de sei lá o quê. Minha mãe era evangélica, 2 vezes por semana ela reunia um grupo de “irmãs” e Pastores (não podia ser mulher, não sei porquê) para fazer um culto. No meu primeiro culto, ele foi dedicado a mim. Diziam eles que era para me “Apresentar ao Senhor”.
Alguém disse a minha mãe, depois de comer 3 rosquinhas e tomar uns goles de leite com achocolatado:
  • Ensina, irmã, ele no caminho do Senhor. E especialmente nessa religião, e ele nunca se desviará.
Ei! Será que eu posso decidir a religião que quero seguir? Ou isso cabe a uma senhora com tranças no cabelo e saias longas decidir? (essa era minha mãe).
Meu pai não participava do culto, ele saia e ia beber. O culto acaba quando ele pisava o pé na porta de casa. As irmãs apavoradas, juntos com os pastores, saiam correndo. Algumas até aproveitavam para pegar algumas rosquinhas e, no caminho irem comentando da vida de minha mãe. Nesse meu primeiro culto, uma irmã disse a minha mãe: Deus está preparando o lugar dele. E o lugar dele é segurando uma bíblia! Crê?
Quando todos iam embora, começa! O meu pai queria bater em minha mãe, e minha mãe o xingava. Depois do meu primeiro mês de vida, eles tiveram uma briga feia, a mais feia que presenciei. Meu pai deixou minha mãe no hospital, ela alegou que caiu comigo da escada. E não pense que meu pai é burro, não. Ele pensou em cada detalhe: Ele me deu pancadas “de leve” no meu corpo todo, para os médicos realmente acreditasse que ele estava falando a verdade! E acredite, meu pai só não me jogou da escada literalmente, porque ele tinha medo de eu morrer, e isso iria prejudicar a situação dele.
Quando completei 2 anos de idade, tive que ir ao sinal vender doces. Eles preferem que as crianças vão, porque, criança é mais doloroso ver pedindo alimento. Então, a esmola vem “fácil”
Lembro de dias chuvosos, e eu tinha que trabalhar, o que eu mais queria era poder brincar do quê fosse, qualquer coisa. Só queria ser criança normal, com família normal.
Haviam dias em que as pessoas não se contentavam em dizer somente “não” quando eu lhes pedia cinco ou dez centavos. Eles me chamavam de drogado, ladrão, trombadinha! Isso quando não me batiam. Já apanhei algumas vezes por pegar moeda do chão, onde não havia ninguém por perto que pudesse ser o dono.
Com meus 7 anos, meu pai me ensinou a me defender de gente que me batia. Ele me deu uma barra de ferro, para que eu levasse comigo dentro da mochila, e falou que, se eu não me defendesse, quem iria apanhar com a barra de ferro era eu. Fiz o que ele mandou. Apanhei dez vezes mais do que já apanhei do meu pai. Da primeira vez, juntaram 3 homens para me bater. Não sei como sobrevivi. A policia? [                                                                                        ]
Aos 8, eu já tinha quebrado 3 vezes as pernas, duas o braço, fiquei em coma por 3 dias, e nunca, nunca fui à escola!
Aos dez, como é de se esperar, ele me introduziu as drogas! Foi a pior sensação da minha vida. Mas aos poucos, fui gostando, e cada vez mais, me viciando. Daí por diante eu era “menino criado”. Meus pais já podiam ir embora, morrer, fazer o quê for da vida deles, que eu sabia me virar.
Não tinha dinheiro para comprar drogas, comecei a roubar. Roubava especialmente idosas e mulheres. Matei. Matei uma mulher, com a arma que meu pai me emprestou quando fiz 15 anos de idade, ele disse que os 15 anos é especial para um menina, e decisivo para um homem. Essa mulher possuía um celular da moda, uma bolsa aparentemente cara, que devidamente tinha uma quantia razoável na carteira, e um estilo de quem tinha muito, mas muito mais em casa, e isso não iria fazer diferença da sua vida. Mas ela se recusou, e fez sim, muita diferença! Fui preso por isso. 1 ano e 3 meses. Sai de lá mais forte do que nunca. Minha mãe foi me encontrar na saída do presídio. Com uma bíblia debaixo do braço.
  • Pedi para Deus te matar. Levar você da Terra. Não aguento mais esse sofrimento. Minha vida é uma desgraça e você conseguiu piorá-la.
Foram com essas palavras que ela me recebeu. Chegou em casa, e ela apanhou por isso. Aprendi que quando a pessoa erra, ela precisa apanhar. Apanhei muito a minha vida toda! Minha vida foi um erro. Ou o erro foi da vida?
Orei muito minha vida inteira. Pedi muito para Deus que me perdoasse pelos meus pecados. Eu, mesmo pequeno, sabia que eu tinha cometido algum pecado, porque não era possível tanto sofrimento e dor. Eu via meu sangue todos os dias, via minhas lágrimas todos os dias, quando eu trazia dois ou três reais para a casa. Via a raiva do meu pai, quando eu pedia para ir à escola. Eu só não via a misericórdia de Deus. Aquele que ama todos, que nos perdoou de todos os pecados, que cura tudo, que pode tudo. O Rei eu não vi.
Por que? Eu não sou filho dele? Não mereço misericórdia? Não sou digno de liberdade? Onde estava ele quando eu mais precisei? Onde estava ele quando meu pai tirava sangue de mim? Onde?
Não tenho raiva de Deus, Jesus, Alá[...] tenho raiva de pessoas que, apesar de tudo, ainda acredita cegamente que ele exista!


Thiago Almeida
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...